sábado, 23 de outubro de 2010

Mãe Senhora de Yewá © A Primeira Lágrima

Andreia de Yewá © A Primeira Lágrima

Festa de Obaluaie - Egbome Salete © Roderick Steel 2005

Festa de Oxum - Egbome Rose © Roderick Steel 2007

Festa de Yewá - Iyá Luciane © Roderick Steel 2007

Festa de Yewá - Iyá Gabriela © Roderick Steel 2007

Terminei?

Terminei?

Nunca sabemos quando terminamos um filme. Dizem que existem 3 filmes, o que escrevemos, o que filmamos, e o que editamos, mas nesse caso editei 3 filmes totalmente diferentes. O primeiro fiz pensando nas pessoas que participaram, o segundo fiz pensando no público, e este terceiro fiz pensando em mim.

Espero que este novo - e último - corte conseguiu dar voz ao próprio povo-de-santo, e que as filhas de Yewá que obviamente norteam o filme com suas mães irão eventualmente ver o filme com bons olhos.

Concebi este filme na contra-mão de uma expectativa. Tinha visto tantas Yewás em São Paulo que nem sabia que era uma santa rara. Quando a Cia. das Letras publicou 'Mitologia dos Orixás' não encontravam imagem de Yewá. Achei estranho: dai fui ver que eu vivia dentro de uma bolha irreal de Yewás.

São muitos os fatores que influenciam os sacerdotes na hora de construir a história dessa santa. Entre eles existe uma linguagem complexa entre o ritual e o conhecimento, o saber e não-saber. Existem também possibilidades infinítas de um dialogo fortalecedor entre Cuba e Brasil, entre Santeria e Candomblé. Mas eu jamais conseguiria mostrar isso.

No sentido mais amplo, espero ter revelado que as deusas continuam a existir, e (finalmente) que a mitologia e o sonho continuam a dialogar dentro de religiões vivas de maneiras complexas. Penso no Hillman, Eliade, Campbell e outros que já exploraram os limites entre sonho e mitologia.

Comecei a editar esse filme em 2006, quando aprendi a usar Final Cut Pro no mesmo Mac que estou usando agora - imac Power Mac G5. Fiz um primeiro corte que mostrei para Pai Karlito e Mãe Carmen no começo de 2007, e foram eles que marcaram a entrevista com Mãe Senhora para mim, durante um longo e intenso axexê de 21 anos da morte de Mãe Meninha no Gantois, ritual que Pai Pérsio ajudou a dirigir e que tive o enorme privilégio de presenciar. Foi em 2007 que finalmente criei a coragem para investir em equpamento (depois de tentar, sem êxito, muitos editais) e filmei muito, consegui a entrevista com a Rose (depois de 3 anos implorando) a Luciane, Gabi etc...

Terminei de editar em abril de 2009 e abandonei o filme para filmar e editar QUELUZ. Quando trechos filmados para o doc foram postados no youtube em Junho entrei em pânico. Abandonei a edição no meu outro longa que comecei antes de Yewá ('A Balança') e agora terminei depois de quase 3 mêses sem parar - entre traduções e videos menores.

Outro fator importante na edição desse filme foi que finalmente me livrei da vontade de fazer um doc experimental, ao fazer 'Nem Dia. Nem Noite'. Isso permitiu que parasse de fazer experiencas malucas que estavam complicando filme demais. E tmbm me deu o primeiro sinal que poderia ter um público de verdade um dia, pois 'Nem Dia' entrou no sei 1º festival em Agosto de 2010.

Confesso que estou surpreso com o filme pois durante esses anos todos nunca achei que iria virar a mesa (turn the table?) nesse material. Fico lembrando a fala da Mãe Fatima: "O Pai falou pra Rose que ela que tinha que mandar em Yewá..." Pode ser que a mudança maior aconteceu quando assumi a voz do filme, fato que aconteceu 8 semanas atrás. Até então eu dei a voz aos entrevistados, e o filme ficou leve, solto. Claro que nunca parei de filmar e imagens de setembro deste ano, na casa do Megitó, estão dentro desse corte FINAL.

Aí esta. Falta colocar uma trilha para dar pistas a pessoa que vai fazer a trilha de como será o tom do filme.